De início, a máquina primeira, máquina de fazer (meus dedos e meus olhos e ouvidos e bocas e todo o resto do que eu sou) planeja, e cria, e executa com exatidão uma nova manhã, outra da mesma solidão, enquanto cantam notas de coisa nenhuma as ruidosas máquinas de música. Seguem máquinas de noite, e as máquinas de medo, e máquinas de abandonar e as de amar que recitam primaveras de poesia amarga, enquanto um resto de dor maquínica escapa por entre os dedos de uma outra máquina pequena. Surge então a estúpida máquina sonhadora de escrever para tingir com sangue negro e frio o desespero do maquinário, já à beira da ruína.
Tão logo param as máquinas, cessa o ruído. É silencioso como a morte quando a máquina termina.
Mas ainda lá, além do silêncio, rangendo suave, uma máquina de calcular descreve - como não deveria - o desenho caótico de um novo dia, belo e ímpar, e projeta em sonho e cores o renascer da maquinaria.
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Um comentário:
Lindo ;~
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