quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Pensador pesado, preso à poltorona; como ator cansado da irrealidade enfadonha, resolvo assistir pela janela o espetáculo estranho do real, do mundo que muda.
Em preto e branco e vermelho, sentadas sobre muros, jovens aprendem pós-modernidades e as maneiras de chumbo da cidade, e copiam ávidas em seus corpos tudo o que há na cartilha dos outdoors, e ela muda. E o mundo todo num instante se transfigura e agora atrás da minha retina e da janela se espelha um outro. Anarco-punk-sindical-comunistas desfilam bandeiras de um novo socialismo, de um outro fundamentalismo, de um novomundismo ou de qualquer outro novismo enquanto passeiam e cantam hinos de entusisamo, e eles mudam.
Sedentos, famintos, mendigos, perebentos e outros rebentos de um novo-escravismo transitam, e xingam e imigram. Eles somos as malcheirosas flores do grande jardim do mundo. E todos mudam.
Choram mães demasiado jovens com suas crias no colo, e as consolam xamãs e outros magos esnobes, hipócritas e toda sorte desses ora entusiastas da harmonia e da maravilha, ora senhores da miséria (riquíssima miséria) e baleias e todas formas de vida de todo o mundo, como a própria vida e o mundo dançam e se combinam na sopa cósmica açucarada. E eu aqui ainda, atrás da retina, mudo.




***


Sem janela, eu só cruzo a esquina, enquanto a todo tempo tudo muda, como é a sina. E subo as escadas, e lá no topo, do alto de uma outra poltrona, mudo.


E dessa vez, só, eu mudo.
E dessa vez, só eu mudo.
E dessa vez só eu, mudo.
E dessa vez só, eu mudo.
E dessa vez só.
Eu.
Mudo.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc de volta... de verdade... em carne crua... apenas psycho... e apenas perfeito... sempre...