sábado, 10 de março de 2007

do sofrimento

Cada um deles que anda e pensa, e enxerga e cria, é só um tema a se repetir entremeado por silêncios breves, lá ou ali mudando tempos, tonalidades.
É como a verve vulcânica do poeta, e a imensidão de oceno dos loucos e extáticos, e é como também é a maquinificante compulsão mantenedora do hábito, e todo gesto e todo acontecimento, e não há de ser senão como é e sempre foi, como acima e como abaixo, tanto e enquanto for humana a visada, uma mesma valsa sem par que se há de dançar até que alcance o último homem os confins do sempre.
Que surja aqui ou ali um fundo alegre de flauta a colorir a tragédia, e não faz mais que transformá-la em comédia. E tudo segue.
Tão diferente quanto sempre foi de si mesmo, o humano cósmico existe às suas dez mil maneiras de ser vazio como sempre foi, vazio como nada, vazio como nunca, vazio como ser. Colorido pela inspiração, aprisionado pelo correto, animado pelo belo e temendo o outro, segue ator do eterno drama cósmico. Pois que a triste música fria que somos, repetitiva e sofrida sinfonia de existir e sumir é tudo o que podemos. Mais, nós sequer concebemos.

do vazio

o que é nunca foi para sempre, mas é sempre o que está sendo.
como um complexo sistema mutável, tranqüilamente inconstante, agora, e só agora, se está sendo uma das possibilidades infinitas do Ser inteiro que nunca é em si mesmo.
Eterna mudança, sem duração, sem definição exata. O que é algo agora está sendo sem nem mesmo existir por si, contínuo de possibilidades sempre em transição e que minimamente se define em oposição a um outro; esse outro em constante processo de separação-reintegração, que em si mesmo também não é senão a possibilidade toda expressa em não-ser e subtraída do que está sendo agora.