terça-feira, 30 de outubro de 2007

consciência e conhecimento: a música

Me causa espanto, no mínimo é o que posso dizer da música. Quando em estado de hiperexcitabilidade da consciência, tanto mais espanto ainda me causa - mais que espanto, talvez - que quando disponho-me inteiro a receber a música e mim, que tanto sentir! Estou a um passo do êxtase, a nona sinfonia me soa mágica.
Mas que pena a consciência ter só ela estado assim hiperexcitável, que pena não haver uma maneira de eu dizer disto que vivi, que falta fez naqueles instantes intermináveis o conceito, que falta fez o conhecimento da música para dizer, para compreender em mim e ir ainda mais além de tais impressões. Pois precisamente aí é que surge o necessário de também além de sentir, entender a música. E pode-se dizer necessário não só disso, música, de muito mais. Reconheço aí também, analogamente, a validade disto de formalizar conhecimentos, isto que historicizar vivências, isso de dizer como é o que é, de buscar compreender como pode aquilo que é ser o que é, e realmente dizê-lo, este como; e do que soa, também dizer como soa. De entender, enfim.
Uma maneira de compreender, ou umas maneiras de compreender, tão muitas quanto podem ser muitas as coisas a compreender. Um mundo de conceitos para aproximar-nos de um mundo que não cabe em conceitos. Pena também é que seja uma certa aproximação que não deixa de ser ainda distante, que em trazer para si, ao mesmo tempo afasta, mas é o jeito que se dá. Jamais cessar de tentar inscrever o que não cessa de não se inscrever acaba sendo necessário, afinal, ainda que jamais se siga a esta tentativa qualquer coisa que se possa chamar A Verdade - que talvez nem haja.
Consciêcia e conhecimento: pois é que me faltou o segundo quando minha consciência era quase plena, enquanto ouvia e sentia, e assim foi que não pude ir além de tal êxtase. Foi quando não pude trazer o peixe grande que fora buscar no oceano, o que faltou então foi mesmo um barco resistente e suficientemente espaçoso: recurso simbólico, conhecimento, que seja...

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